O Jogo do Casamento

Na primeira semana de convivência, quando o casal começa realmente a se conhecer, é que se estabelece como será o dia a dia de um casamento. Por isso é importante que você já deixe claro, logo de saída, do que gosta, do que não gosta, o que "tudo bem, pode até ser" e principalmente aquelas coisas que você não vai fazer de jeito nenhum. "Nem que a vaca tussa".
É no começo da relação que se define qual o espaço de cada um e quem manda no quê. Sugiro que, já na primeira noite, você assuma o controle remoto da televisão. Ele é um símbolo de poder dentro de casa. Se você vacila no início, pode acabar tendo que assistir a um chef de cozinha ensinando a fazer panquecas, na hora da transmissão do Gre-Nal.
Casamento é como futebol. Tem muita marcação sob pressão e quem souber ocupar os espaços vai conseguir envolver o adversário, quer dizer, o parceiro. E cada vitória sua nessa nebulosa conquista do território doméstico tem um preço alto, que será cobrado no futuro. Com juros. Especialmente se sua mulher for descendente de italianos, como a minha. É a vendetta!
Pois bem, no início de tudo, quando minha mulher percebeu que eu já estava ficando à vontade e tinha até escova de dentes no banheiro, resolveu me levar para fazer compras de supermercado. Eu não sei fazer supermercado.
Porque um casal sem filhos, que janta fora todas as noites e viaja nos fins de semana, precisa de dois carrinhos de supermercado? Achei um disparate, mas fiquei na minha. Era uma época em que eu andava tateando o terreno para não pisar em falso.
Começamos a circular por aquele labirinto emaranhado de prateleiras coloridas e fui ficando meio tonto. Minha mulher se movia com uma desenvoltura impressionante e, quando se deu conta que eu iria mais atrapalhar do que ajudar, me pediu para escolher um sorvete enquanto ela fazia o serviço pesado.
Me deixou na frente de um freezer e seguiu caminho. Depois de quase uma hora, voltou com os dois carrinhos cheios - só Deus sabe de que - e me encontrou no mesmo lugar, com vários potes de sorvete na mão: "Meu amor, tô em dúvida!".
Nunca mais me levou para fazer compras de supermercado. Me livrei dessa função. Até hoje ela diz que eu fiz de propósito. Não é verdade. A escolha do sorvete certo, no início do casamento, é fundamental. Não dá pra bobear.
Se eu cometo um erro ali, naquele momento, era capaz de ela chegar em casa e querer assumir o controle remoto.

4 comentários:

  1. É isto mesmo Kledir!Boa aula para um inicio de relacionamento: ditar as regras com todos os pontos chaves!
    jot

    ResponderExcluir
  2. Ahahahhahahahhahahhahahahaahhahahahahahaha...

    Mas nos diga aí, afinal, qual era o conteúdo dos tais dois carrinhos de supermercado, Kledir...

    Beijão,

    Silvana, de Brasília (do Fã-Clube Corpo e Alma)
    esquinadasil.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Que texto ótimo! Engraçado, mas o assunto é sério. Se eu o tivesse lido há 2 anos e meio atrás, talvez não estivesse terminando meu relacionamento agora... Sem problema, fica pra próxima ;)

    ResponderExcluir
  4. Mestre Kledir,

    Estou em falta contigo. Faz tempo que não entro em contato. Agora (já quase obsoleto num tempo twitteresco) entrei na onda do blog.

    E cá estou para te dizer que é sempre um enorme prazer (no sentido literário apenas) degustar tuas palavras e a tua companhia, ainda que virtual. Tuas crônicas são deliciosas. Totalmente visuais, cinematograficas mesmo. To até pensando e roteirizar algumas delas pras oficinas de teatro da Secretaria de Cultura daqui e desse modo dar um incentivo pra gurizada se interessar por literatura brasileira e sulista.

    Luz e paz profunda!

    P.S.: tendo um tempinho, apareça no meu escrevinhador

    www.franciscofarro.blogspot.com

    ResponderExcluir